Publicado em 19/04/2022 16:39 e atualizado em 19/04/2022 17:18
Os atuais momentos dos mercados de milho e soja deverão colocar o produtor brasileiro em alguns dilemas nos próximos meses, e o principal deles deverá ser como ele vai avançar com sua comercialização para garantir seu fluxo de caixa, espaço para a armazenagem dos grãos e as oportunidades de negócios que poderão ser oferecidas pode ambos os produtos.
Com a quebra da safra 2021/22 de soja e as boas perspectivas para a segunda safra de milho – com algumas perspectivas apontando para uma colheita acima de 90 milhões de toneladas do cereal na safrinha – a possibilidade, como explica o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, é de que o programa brasileiro de exportação da oleaginosa termine mais cedo e o de milho comece a ganhar mais força antes do que o tradicionalmente acontece.
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Assim, “os produtores terão que decidir o que segurar. Não vai ter espaço para tudo”, afirma Vanin. “Temos muita soja ainda e uma safra grande de milho a caminho”, diz. Os prêmios para a soja no Brasil, apesar de seguirem em patamares elevados, não encontram espaço para novas altas, o que também faz com que o produtor retenha um pouco mais suas vendas neste momento.
Do mesmo modo – e com Chicago testando mais de US$ 17,00 no primeiro contrato e com prêmios na casa de US$ 1,40 por bushel acima da CBOT, levando a soja brasileira a cerca de US$ 18,50 – os compradores se voltam a origens mais competitivas neste momento, como Estados Unidos e Argentina.
“Tudo isso acaba determinando a movimentação dos prêmios (…) Se a demanda das tradings se reduz, teremos as processadoras, que já estão bastante avançadas com as compras. E o produtor tem que estar atento a tudo isso, porque vai mexer com Chicago, com os prêmios e, principalmente, os prêmios, porque isso é muito mais local”, explica Vanin.
Já no milho, a pressão sobre os prêmios – diante de maior concorrência com outros fornecedores e de uma possibilidade de maior oferta – é bastante forte. “Mesmo com as tradings não conseguindo originar do produtor o milho, porque ele também não quer vender, elas já estão vendendo na frente, esperando comprar mais barato a frente”, explica Vanin.
Ainda de acordo com o analista, pesam sobre os prêmios do milho do Brasil o cereal da Ucrânia sendo escoado pela Romênia, o da Rússia sendo ofertado pelo mar de Azov, o da Argentina, o do Paraguai ofertado para o Oeste do Paraná. “Os prêmios terão que fazer o papel de garantir o fluxo”, explica Vanin.
Parte da contenção das vendas por parte dos produtores brasileiros, tanto da soja, quanto do milho, se deu pela valorização do real frente ao dólar. Um levantamento do Rabobank mostra que os preços da oleaginosa no interior do Brasil, em abril, cederam 11% na comparação mensal, embora estejam 2% mais elevados do que no mesmo período do ano passado.
“Depois de alcançarem recordes nominais em março, a valorização da moeda brasielira frente à americana impactou negativamente os preços da soja neste mês”, explica Marcela Marini, analista do Rabobank.
s preços do milho recebidos pelos produtores brasileiros também cederam 11% na comparação mensal, sentindo, entre outros fatores, a pressão também do câmbio.
“Assim, o que o produtor brasileiro pensa em fazer vai mexer mais diretamente com os prêmios, tanto soja, quanto milho. Para Chicago, o fundamento é muito mais do lado da oferta, não só curto prazo, mas de médio também. De um lado temos as bolsas refletindo isso e, de outro, os prêmios refletindo essa questão do mercado físico, com demanda fria, e essa questão logística que é também muito importante para os prêmios”, complementa Vanin.
Na anáslise de Ênio Fernandes, consultor em agronegócios da Terra Agronegócios, o andamento dos preços do milho também estará muito focado no comportamento da safra 2022/23 de milho dos Estados Unidos. Além da demanda maior por exportação, a indústria processadora local tem buscado muito grão, já que as margens garantidas pelo etanol no país têm sido bastante fortes e atrativas. Assim, o que se observar nos futuros do grão na CBOT e de que forma eles impactarão na formação dos preços no mercado nacional também deverão influenciar nas decisões do produtor brasileiro.
Além disso, com uma demanda interna mais aquecida nos Estados Unidos, os importadores tendem a buscar mais milho brasileiro – como já está acontecendo – o que também vai ser considerado na hora das decisões.
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“A armazenagem já está preocupando, vai faltar espaço. Então, o produtor vai ter que vender para liberar espaço. E como ele ‘confia’ mais na soja, na liquidez da soja, pode ser que venda milho na boca da colheita para liberar este espaço”, explica Fernandes.
Para o consultor, o produtor tende a continuar retendo um pouco mais a soja, confiando na continuidade de sua liquidez um pouco mais forte do que a do milho, olhando inclusive para a demanda interna. As indústrias processadoras seguem buscando matéria-prima frente, principalmente, às margens boas que tem dado o óleo neste momento no Brasil.
“Acredito que teremos um dos menores estoques finais de soja da história neste ano, algo entre 1,5 milhão e 2 milhões de toneladas. E devemos exportar de 77 a 78 milhões de toneladas, por conta da quebra que tivemos aqui. Assim, os preços precisam continuar a fazer seu papel de limitar a demanda”, afirma.
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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas